- Sustentabilidade
Moda Sustentável
13 de Fevereiro 2023
6 min de leitura
Nos tempos modernos, a moda é encarada como uma expressão da nossa individualidade. Numa época em que a imagem é, muitas vezes, um dos atributos mais valorizados, o mercado multiplica a velocidade a que novas peças de vestuário são colocadas à disposição.
A produção em massa faz com que os preços se tornem cada vez mais baixos, o que por sua vez leva a um consumo excessivo por parte dos consumidores. As peças adquiridas são rapidamente descartadas e substituídas por outras novidades. À medida que o conceito de “fast fashion” (moda ráFpida) cresce, o planeta fica cada vez mais debilitado.
Torna-se urgente uma mudança de mentalidade a nível global. É aqui que entra o conceito de moda sustentável que, pouco a pouco, se vai introduzindo no dia a dia dos consumidores, mais atentos às consequências dos seus hábitos de consumo.
O impacto ambiental da “fast fashion”
Segundo as estimativas da ONU, a indústria têxtil é responsável por cerca de 20% da poluição da água potável e de 10% das emissões de gases com efeito de estufa a nível mundial, o que, para que fique com uma ideia, representa mais do que as emissões geradas por todos os voos internacionais e transporte marítimo juntos.
A lavagem de materiais sintéticos traduz-se na libertação nos oceanos de 0,5 milhões de toneladas de microfibras por ano, e é responsável por 35% dos microplásticos primários libertados no ambiente. A produção em si de uma simples t-shirt implica a utilização de cerca de 2700 litros de água doce, que corresponde à quantidade média de água potável consumida por 1 pessoa durante 2,5 anos.
A par do consumo excessivo de água, a indústria têxtil reclama cada vez mais terrenos para plantação de algodão que implica o uso de pesticidas nocivos para o ambiente. Os aterros enchem-se de peças de vestuário usadas, à medida que as pessoas aumentam a velocidade com que as descartam.
A procura por materiais sustentáveis
À medida que os consumidores vão ganhando uma maior consciência ambiental, as marcas tentam adaptar-se, pensando em formas de substituir materiais sintéticos por outros mais sustentáveis, que reduzam o seu impacto negativo no meio ambiente.
O algodão orgânico, o cânhamo, o linho, o modal, a seda de soja, seda de laranja, o couro de abacaxi ou alfarroba, e a fibra de bambu são apenas alguns exemplos de materiais sustentáveis que têm vindo a ser recentemente utilizados na produção têxtil. Para além de recorrerem a métodos de produção menos agressivos, ao serem compostos por materiais orgânicos ou reutilizáveis têm a capacidade de se decompor mais rapidamente, reduzindo a acumulação de lixo na natureza.
A par do uso de materiais sustentáveis, tem existido igualmente algum debate sobre a possibilidade de uso de materiais reciclados. Infelizmente, atualmente, apenas 1% do vestuário a nível mundial é efetivamente reciclado, tendo em conta a dificuldade de separação dos materiais das peças de roupa para transformação em fibras de alta qualidade, e os recursos que o processo exige. O poliéster reciclado, usado por várias marcas nas suas peças, vem na realidade de garrafas PET recicladas e não de roupas recicladas.
O exemplo português
Portugal tem vindo a dar um bom exemplo no que toca à utilização de materiais sustentáveis na produção têxtil. São já várias as marcas de roupa portuguesa sustentável que, a um design atual juntam materiais inovadores usando-os como base do seu conceito e posicionamento de marca.
ISTO
Vestuário para homem e mulher, feito de materiais orgânicos. Trabalham apenas com fornecedores com certificação GOTS (Global Organic Textile Standard).
Site: ISTO
Jacarandá
Vestuário para mulher feito com tecidos em fim de linha (deadstock) e tecidos reciclados.
Valorizam a proximidade aos fornecedores, optando pela utilização de tecidos portugueses.
Site: Jacarandá
Naz
Vestuário para mulher feito com tecidos em fim de linha e materiais orgânicos como linho, algodão orgânico e lyocell.
Site: Naz
Natura Pura
Vestuário, acessórios e brinquedos para bebés fabricados em Portugal, feitos de algodão 100% orgânico sem qualquer tingimento.
Site: Natura Pura
Insane in the Rain
Marca de casacos impermeáveis feitos a partir de plástico reciclado, retirado originalmente de garrafas antigas e plástico de utilização única.
Site: Insane in the Rain
Baseville
Produzem uniformes corporativos personalizados em Portugal, evitando utilização de recursos virgens. Recolhem peças em final de vida para revenda ou reciclagem numa nova peça.
Site: Baseville
As Portuguesas
Marca de chinelos feitos de cortiça portuguesa.
Site: As Portuguesas
Marita Moreno
Vestuário e acessórios para mulher e homem com recurso a materiais crus como a cortiça, a madeira, o linho, o algodão orgânico, lã portuguesa, entre outros.
Site: Marita Moreno
A importância da economia circular na moda
A troca e venda de vestuário em segunda mão foi uma das soluções encontradas para reduzir o desperdício têxtil, que mais fôlego tem ganho nos últimos anos. Às roupas a que já não damos uso é agora possível dar continuidade através da sua venda ou troca por outras peças também usadas, em plataformas online como a Vinted ou a MyCloma, hoje um fenómeno de popularidade.
Um dos artigos usados que maior procura regista é a roupa para bebés e crianças. Tendo em conta o rápido crescimento dos mais pequenos, a roupa deixa de lhes servir no espaço de poucos meses ou mesmo semanas, sendo colocada de lado mesmo sem ter sido praticamente usada. Sites como o Kid to Kid, o SecondHand Babywonderland e Knot, são algumas das referências para quem procura poupar dinheiro enquanto faz a sua parte na proteção do meio ambiente.
Algumas marcas começam agora também a aderir a este novo tipo de economia. Com o objetivo de combater o desperdício têxtil, a Auchan associou-se à MyCloma, disponibilizando em certas lojas pontos de venda de peças de roupa usadas que podem ser experimentadas antes de serem adquiridas.
Reparar e reutilizar em vez de desperdiçar
Muitas peças de vestuário são deitadas fora assim que começam a ficar danificadas ou a apresentar marcas de uso. Como resposta a este comportamento, começamos a verificar duas tendências emergentes que começam a ganhar cada vez mais espaço no mundo do retalho: a reparação de vestuário e o upcycling.
Marcas como a Barbour (casacos encerados e outro vestuário), a Patagonia (roupa para atividades outdoor) ou a Rapha (vestuário para ciclismo) já oferecem serviços de reparação de roupa aos seus clientes e/ou vídeos que ensinam como fazer essa mesma reparação em casa.
A par da reparação do vestuário, surge ainda um outro conceito associado à sustentabilidade na moda: o “upcycling”, que consiste no redesign de uma peça de roupa, transformando-a noutra diferente, com valor superior ao original.
Ao reaproveitar tecidos e outros materiais usados, reduz-se o impacto ambiental associado à produção de novos tecidos e ao desperdício de peças que entretanto se tornaram inúteis para o consumidor. Por exemplo: transformar cortinas velhas em peças de vestuário, usar restos de materiais de uma coleção antiga numa nova coleção, transformar uma camisola encolhida após ir à máquina numa nova mala, etc.
Sustentável, ou nem por isso?
O conceito de sustentabilidade está, literalmente, na moda. Como já referido, muitas são as marcas que atualmente se juntam à tendência, oferecendo produtos que, alegadamente, são produzidos de forma sustentável. A palavra a destacar aqui é, precisamente, “alegadamente”.
Ao lado de marcas que, efetivamente, respeitam todos os requisitos associados a uma produção sustentável, existem
muitas outras onde o conceito é apenas aplicado às mensagens exibidas nas embalagens e publicidade. O consumidor é
levado a acreditar que determinado produto é sustentável através de mensagens fraudulentas e alegações erradas
- uma técnica de vendas conhecida desde a década de 80 como Greenwashing.
Na hora de escolher um produto que se auto intitule como “sustentável”, verifique se este não se insere num conceito de Greenwashing, tendo em atenção os pontos abaixo descritos:
-
Informações vagas.
A descrição do produto inclui vários adjetivos relacionados com a sustentabilidade, sem no entanto explicar exatamente o porquê de ser ecológico. -
Informações fraudulentas.
O produto afirma ser certificado, no entanto não existe qualquer referência à entidade que o certificou. -
Informação irrelevante.
A descrição do produto refere ausência de determinadas substâncias ou práticas que já são proibidas há vários anos como se fosse algo extremamente diferenciador, quando na realidade limitam-se a cumprir a regulamentação em vigor. -
Informação parcial.
A marca afirma que o produto é mais ecológico, sem no entanto especificar a base de comparação.
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